14 de abril de 2007

13 de abril, Dia Internacional do Beijo



Ontem foi dia do beijo

Bom, todos sabem que escolher uma data para comemorar seja lá o que for sofre um processo cultural independente da origem – podendo ser comercial, dogmático ou tirano. Com o beijo, nada diferente, não se sabe quem instituiu o Dia do Beijo e nem ao certo quando o delicioso acompanhamento do afeto surgiu. Há quem diga que foi no ano 500 antes de Cristo, na Índia; e os indianos são conhecidos pelo culto ao sexo e ao prazer, bem faz eles, digo eu.

Mas continuando, Charles Darwin, no entanto, acreditava que o beijo se tratava de um processo evolutivo das mordidas que os macacos davam nos parceiros em ritos pré-sexuais, notemos aí que as preliminares já eram importantes. Convenhamos, Darwin não era lá muito romântico, mas o que ele diz sobre o movimento da boca faz sentido – se é que alguma coisa faz sentido em se tratando de beijos. Pensemos, as macacas, nossas primas chegadas, são conhecidas pelo gênio difícil. É provável que tenham começado a reclamar da força das mordiscadas dos seus amantes macacos - pouco acostumados com o carinho pós-coito. Os primos macacos, não suportando mais a ladainha das primas macacas, foram cedendo e adaptando a dentada pelo leve toque dos robustos lábios. E para falar a verdade, uma teoria não anula a outra. Os indianos são ótimos observadores e cultuam, entre outros animais, os macacos. Vendo os beijos dos nossos primos, talvez tenham incorporado o “jeito” para deleite humano. Sábios indianos.

Bom, mas há também quem diga que o beijo surgiu das lambidas que os homens das cavernas davam em seus companheiros em busca de sal. Ou ainda uma variante de um gesto de carinho das mulheres das cavernas que mastigavam os alimentos e punham na boca de seus filhos pequenos. Menos sensual essa hipótese, mas ainda assim possível já que Freud explica o comportamento diante da relação mãe-filho num processo bem parecido. Com tudo isso, porém, ainda acho que os indianos ganham longe na adaptação.

O fato é que independente da origem, o beijo é uma instituição do carinho. Hoje em dia, talvez, possamos até dizer que é normal beijar sem afeto, mas gostar de alguém sem beijo é crueldade. Diante disso, criou-se a necessidade de eleger um dia inteiro para lembrar as pessoas o quanto o gesto de encostar os lábios na face, na boca ou no vasto horizonte do prazer humano é imperativo. Palavra chave: lembrar. Em alguns países existem as chamdas “Paradas”. Parada do dia da criança, parada do dia de ação de graças, parada gay – já tradicional por aqui também, parada da independência, ou seja, um dia de parar para refletir sobre as conquistas, as formas, as evidências e as tendências – não propriamente nessa ordem. O beijo até tem algo parecido na Parada do Amor em Berlin, mas perde feio para as lutas anti-segregadoras do homossexualismo. Beijo mesmo, mais para chocar.

Em razão disso, proponho então, uma “Parada do Beijo”, todo mundo beijando filhos, avós, primos, amigos, namorados, cônjuges, amantes, desconhecidos, vizinhos, colaboradores, sócios, colegas, flores, bichos. Essa infinidade de pequenas sociedades que nos movem na transformação diária. Essa transferência de experiências, mesmo na rotina, possibilita elementos de surpresa. Ok, segundo quem? Segundo eu mesma, oras. Isso não é um fato científico até agora, e menos ainda uma matéria com fonte conhecida. Sou eu dizendo que beijos são sempre surpreendentes. Se for um beijo sem caso, que seja descartado, mas que exista para ser mais um elemento comparativo.
Ontem beijei conhecidos, desconhecidos, amigos, parentes. Alguns virtualmente, outros in persona. Beijos ao ar, ao mar, ao par. Sem fronteiras e sem vergonha, beijo é beijo e eu me mordo por um, dois ou mil. Beijo quente, molhado, mordido, suado, na chuva.... no início, durante e no fim. Pescoço, dorso, bochecha, boca, nuca... “ e sempre e tanto, que mesmo em face do maior encanto, dele se encante mais meu pensamento” para não deixar de falar em Vinícius de Moraes.

Imagem: O Beijo de GUSTAVE KLIMT in 1907/8.




(Letícia De Castro, beijoqueira de sempre e tanto...)