Conversando com as paredes
me vi num momento da vida que representa uma encruzilhada. Um trevo, como dizem na minha terra. E neste contexto, rodeada de gente que eu gosto, de calçadas que eu percorro todos os dias, de livros que me lêem todas as noites, de promessas que não cumpro todos os anos e inteligência que desperdiço todos os minutos, notei que mudei. Cresci. Embora ainda adultescente. Mas um tanto mais séria, menos lacrimosa. Ainda juvenilmente esquerdista. Sinto que algo se quebrou. A Terra do Nunca está se afastando do meu roteiro diário.
Nas minhas insurgências literárias, busco me encontrar nas palavras de outras pessoas pra outros amores, sonhos alheios, olhos de sabedoria. Coisas que não tenho, não ganhei e não sei. Daí acho propriedades que me fazem querer de fato sair pro mundo e vivê-lo. Abaixo está um expemplo. E pra quem sabe do meu segredinho pra dormir, vai saber o quanto mudei.
Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.
A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.
Dorme, dorme. dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.
Fernando Pessoa
Eu agora quero ser sonho, acordado e tangível.
Letícia De Castro -
em busca da Terra do Nunca, outra vez!