Ainda me é um mistério como um escravo se mantinha em pé, com a força dos pulmões em dia e com o coração em pleno funcionamento diante da opressão e da dor. Negros vivos em corpos fracos pela dor, e ao mesmo tempo fortes pela lida insuportável.
É sufocante saber que existiu um mundo escravagista, é dolorido descobrir a tortura aos negros, indígenas e outros tantos povos que sucumbiram à sede de poder e cobiça dos ignorantes.
A dor maior é saber que escravidão está longe de acabar. E ainda pior à medida que os expostos a esse absurdo vão mostrando carinhas inocentes e ainda indiferentes ao que a vida lhes deve: dignidade. Crianças em regime de trabalho escravo no Brasil - meu país que acolheu negros africanos pra construir uma riqueza que jamais chegou a beneficiá-los, bem oposto disso. Matou, surrou e injustiçou. Se hoje temos uma cultura forte, uma lingua linda e um povo genuinamente alegre, temos que reconhecer o esforço dos negros indomáveis. Saíam do tronco com a alma renovada pelas feridas da injustiça. Devemos muito aos negros e ainda há gente que não entende.
Até quando o ser humano vai se auto-destruir? Até quando as pessoas vão ignorar o fato de que independente de cor, credo, tamanho e lingua, são todos feitos da mesma essência. Digo isso com um medo enorme de estar enganada, pois não me vejo numa mesma "espécie" que estes brutos dominadores fazem parte. Não entendo e não aceito.
Alguém aí entende? Se aceitar, por favor, nem me contem, a inconformidade seria intolerável até pra mim que pratico a tolerância.
P.S: escrevo isso depois de dormir à tarde e sonhar que estava vendo um escravo sendo "torturado" no tronco.... Não sei porque raios sonhei com isso, mas o fato é que acordei chorando. Meus sonhos são loucos..... Muito loucos.
Letícia De Castro
(Vivam e deixem viver malditos opressores)