14 de outubro de 2005

Necessidades

Preciso de um café forte, de açúcar na ponta do dedo, idéias luminosas, caras novas, amigos de sempre, amigas sinceras (existem), segredos de liquidificador – seja lá o que for, um amor sem dor, um dia sem pressa, uma lua completa, uma noite cheia, um sapato confortável, uma bandeira pra defender, uma luta pra acreditar, uma música pra escrever, um livro pra pensar, uma sinal pra entender.

Preciso de pessoas com defeitos diferentes dos meus, carinho no pescoço, perfume novo, um puff confortável, uma tarde no aeroporto pra partir pra lugar algum.

E claro, de um creme hidratante novo.

Beijos

Como nasceu o "Mundo de Chuchu"


Nossa, muito tempo sem falar nada né. Mas cá estou com minha mala de bobagens trazidas direto do mundo da Chuchu, que aliás, eu vou contar como começou, lá na Aurora da Minha Vida - estava sendo cobrada por isso.

Gincana no cólégio, frio do caramba, turma toda reunida na casa da Paty Winge de madrugada ouvindo a rádio Atlântida que divulgava as tarefas a serem cumpridas durante o dia. Até aí só lembranças do que fazíamos aos 14 anos. Bom, até minha mãe e meu pai, zelosos pais amados, resolverem levar um chocolate-quente pra esquentar a gurizada. Educadamente fomos, a turma toda, até o portão dar tchau, minha mãe entrar no carro, abrir o vidro e me dar tchau. Um bem sonoro - tchau Chuchu. Até meu pai passou a mão na cabeça vendo que minha reputação e dignidade nunca mais seriam restabelecidas. Chuchu. Eu olhei pros lados imediatamente ao ato-falho da minha mãe. Não deu outra, estavam todos me olhando com cara de caçadores que acharam o lobo, ou a matilha inteira. Meu pai arrancou o carro bem depressinha sabendo que a despedida carinhosa da minha mãe havia mudado a minha vida.

Dizem que um nome reflete muito a personalidade da pessoa. Naquele dia meus colegas não só conseguiram expressar o que achavam de mim, como mudarm a minha identidade para o resto do que, imaginava, seria meu segundo grau. Pelão, German, Paty, Sabrina, etc, etc, etc., ajudaram a difundir essa nova identidade. Claro, apelido só pega quando a gente não gosta. Mas não era meu caso, eu até gostava que minha me chamasse assim, era um apelido que me mostrava que ela estava de bom-humor, que eu não tinha trazido bilhete do cólégio, nem estava suspensa ou coisa pior. Era um sinal de que "tava tudo na paz" e de repente, todo mundo começou a usar o sinal de não-fumaça da minha mãe. Ela passou a me chamar de Letícia porque todo o resto do mundo me chamava de Chuchu. A mãe até voltou a usar esse codinome num momento solene, quando eu destruí o carro dela e saí ilesa, sem carteira e nenhuma culpa. De verdade, eu não tive culpa. Ela, sabendo a filha que tem, chegou no churrasco da minha turma e me chamou - Chuchu, o que aconteceu?! Pronto, meu sinal de que estava tudo bem. Chorei e senti um baita alívio ao aouvir de novo esse código de não-fumaça.

Como ia dizendo, achei que fosse coisa da adolescência, coisa efêmera e tal. Mas minha mãe, quando a poeira baixou e ela se sentiu novamente dona desta alcunha, resolveu usá-la novamente. E desta vez para avisar que minha colega de faculdade estava ao telefone. Eu, no banho - a Renata sempre me liga quando estou no banho, certamente já buscando novas revelações - gritei, já vou. Cheguei ao telefone e ouvi uns berros, urros, não sei bem como descrever a situação, mas o caso é que era muita pressão pros meus ouvidos leguminosos.

Pronto, no outro dia voltei a ser a Chuchu. De modo que até meus professores de faculdade me chamavam por esse apelido infame. Pra dar um exemplo da gravidade da coisa, meu ex-chefinho-amigo Norton, olhava meu nome na chamada e perguntava - Chuchu? E eu, humilhada: Aqui. Depois, já no fim da faculdade, fui pedir a um professor que fizesse parte da minha banca e ele disse: "Bah Chuchu, eu já recebi muita monografia pra ler, não tenho condições de receber mais uma". Minutos depois, pedi a outro professor que me respondeu com toda a simpatia e aceitou. Fui buscar a monografia, e adivinha onde ela estava? Claro, em poder daquele professor que disse que não podia pegar mais uma. Fui até ele e assim se deu o diálogo:

Eu - Nunes, tu disse que não podia pegar a minha monografia mas a retirou mesmo assim.
Ele - Não, eu não.
Eu - Pegou sim, é o da sacolinha com o filme sobre o Verdes Anos
Ele - Como assim? teu nome é Letícia? Não lembrava disso

Essa é só uma das situações escabrosas que já em aconteceram em decorrência desse código da minha mãe e se transformou na minha segunda identidade. Ou primeira, nem sei mais.

Mas sabe, com o tempo, eu fui mesmo aceitando a condição de Chuchu e até adotar algumas vezes. Só não gosto muito é de comer o tal legume, que deve ser a cura para alguma doença terrível, aquilo não tem cor, sabor ou utilidade culinária. Mas, diferente dele, eu sou uma fofa, cheirosa e inútil, sim porque não fiz medicina e nem sei a cura pra doença nenhuma. Mas sou amada por todos que me chamam pela alcunha de Chuchu e por alguns que não adotam o apelido por ciúmes - meus melhores amigos de outro colégio não adotaram porque eles mesmos inventaram um codinome: Léts. Eu amo Léts, é só deles.

E assim começou o Mundo de Chuchu – com as escolhas difíceis que Sofia fez um dia!

Beijos

Da série Poesia para teu dia!!!

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa